Empresa paranaense fornece ovos para produção da vacina brasileira contra Covid-19

Desenvolvida pelo Instituto Butantan, a vacina utiliza ovos embrionados de granjas comerciais para gerar doses de vacinas inativadas, feitas com fragmentos de vírus mortos.

O governador de São Paulo, João Doria, anunciou nesta sexta-feira, 26, que o Instituto Butantan iniciou o desenvolvimento e a produção-piloto da primeira vacina brasileira contra o novo coronavírus. A expectativa é que os ensaios clínicos de fases 1 e 2 em humanos com o novo imunizante comecem já em abril, após autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A Globoaves,  uma empresa especializada na produção avícola, será parceira do Butantan na produção das novas vacinas, assim como já faziam com o vírus da gripe, o influenza. “Nos orgulhamos de fazer parte do esforço do Butantan na promoção da saúde. Somos fornecedores de ovos embrionados para a produção da vacina da Influenza e, agora, da Butanvac”, disse a empresa em comunicado.

Para a produção da ButanVac, o instituto deverá usar tecnologia já disponível em sua fábrica de vacinas contra a gripe, a partir do cultivo de cepas em ovos de galinha, que gera doses de vacinas inativadas, feitas com fragmentos de vírus mortos.

Segundo Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, a nova vacina brasileira terá perfil alto de segurança. “Nós sabemos produzir a ButanVac, temos tecnologia para isso, e sabemos também que vacinas inativadas são eficazes contra a Covid-19. Poder entregar mais vacinas é o que precisamos em um momento tão crítico”, explica.

Diretor-presidente do Butantan, Dimas Covas afirma que será possível entregar a vacina brasileira ainda neste ano. “Após o final da produção da vacina contra Influenza, em maio, poderemos iniciar imediatamente a produção da Butanvac. Atualmente, nossa fábrica envasa a Influenza e a CoronaVac. Estamos em pleno vapor”, afirma Dimas Covas.

Afinal, como a vacina é produzida em ovos?

“A produção dos ovos é feita em granjas próprias, construídas em locais protegidos, que contam com altíssimos níveis de controle sanitário. Utilizamos o que há de mais moderno na produção avícola: controles rigorosos, como os controles de ventilação, condições climáticas, iluminação, ninhos automáticos, transporte e embalagem dos ovos em linhas automatizadas. Tudo isso sem deixar de cuidar do bem-estar animal que, tanto na fase de recria como na de produção, é prioridade para que as aves possam produzir ovos da melhor qualidade e plenamente saudáveis”, explica a Globoaves.

Em setembro de 2020, o programa Ligados & Integrados do Canal Rural, explicou passo a passo como funciona a produção de vacinas a partir de ovos férteis.

O biólogo Geraldo Cupertino contou à equipe do programa como é realizado o manejo nas granjas que produzem ovos férteis para a produção de vacinas.

Criação das matrizes

As granjas que fornecem embriões para a produção de vacinas são exclusivas. Cupertino conta que o processo é bem diferente daquele realizado nas granjas de matrizes de frango de corte, já que envolve a produção de medicamentos. “Estamos falando de produtos que serão injetados em seres humanos, por isso, as granjas são totalmente isoladas. O processo de incubação dos ovos leva até 11 dias, dependendo da cepa que será produzida, e os embriões são transferidos em veículos específicos até seu destino, que pode ser o Instituto Butantan”, explica o biólogo. O cliente, como o Instituto Butantan, realiza a inoculação do vírus (neste caso, o influenza) e inicia, de fato, a produção da vacina.

Os ovos passam por uma seleção. São pesados e separados por categorias, e nem todos vão gerar embriões. Antes de sair da empresa fornecedora, é realizado um procedimento chamado ovoscopia em cem por cento dos ovos para a retirada dos embriões inférteis, que não se desenvolveram ou que morreram durante o trajeto. “Só os embriões viáveis, que variam entre 88% a 90% dos ovos, são enviados ao cliente”, explica Cupertino.

Muito além da produção de alimentos

A aprovação das vacinas humanas fica a cargo do Ministério da Saúde, já a aprovação das vacinas para animais é de responsabilidade do Ministério da Agricultura e Pecuária. Os embriões são utilizados tanto para a linha veterinária quanto para a linha humana.

Muitas vacinas utilizam ovos embrionados como matéria-prima principal. Graças à utilização dos ovos, a produtividade é maior. A produção de vacinas aumenta, já que as aves botam um ovo por dia. Antônio Pereira da Silva, gerente de produção do Instituto Butantan, disse na entrevista de 2020 como os embriões facilitam a produção. “Temos capacidade de produzir 90 milhões de doses de vacina contra a Influenza, com perspectiva de aumento. Colocamos uma quantidade muito pequena de vírus dentro do ovo. Se eu colocar dez vírus, por exemplo, após 72 horas, dependendo da cepa, eles se transformam em milhares de vírus. Nosso produto agregado está ali”, concluiu.

Por Canal Rural

Foto por Governo de São Paulo